Bluepharma investe €200 milhões em Coimbra
05 de February de 2021 in "Semanário Expresso - Caderno de Economia"
Empresa aposta nas parcerias para crescer e avança para os injetáveis.
Qual a melhor forma de uma empresa celebrar 20 anos? “Com investimentos e projetos de crescimento”, defende Paulo Barradas Rebelo, presidente da Bluepharma, decidido a duplicar a produção, para passar a barreira anual de 50 milhões de embalagens e colocar o grupo farmacêutico de Coimbra no top 100 dos maiores exportadores nacionais dentro de cinco anos.
Em carteira soma projetos no valor de €200 milhões. Na primeira etapa, a concretizar já este ano, estão orçamentados €47 milhões com incentivos do Portugal 2020 para a expansão da fábrica de São Martinho do Bispo e construção de uma nova fábrica, em Eiras, onde a Bluepharma tem dois parceiros alemães para um portfólio assente em medicamentos genéricos já com encomendas garantidas para os próximos 10 anos. “Estamos a falar de substâncias atividade de elevada atividade farmacológica, produzidas num ambiente controlado em que o homem não entra em contacto com o medicamento”, explica Paulo Barradas Rebelo, sublinhando que esta será a primeira fábrica do género em Portugal.
A maior fatia, na ordem dos €150 milhões, também já está no terreno, mas vai acompanhar o crescimento da empresa nos próximos 10 anos. Em causa, está a construção do Bluepharma Park, nas antigas instalações da Poceram, uma fábrica de revestimentos cerâmicos fechada há já dez anos, em Cernache. São 6,5 hectares que entraram no radar da empresa em 2019 e vão permitir “criar o maior parque tecnológico do país na área farmacêutica”, assume.
O objetivo é passar a plataforma logística do grupo para Cernache ainda este ano, mas também atrair parceiros internacionais para este parque em que uma das prioridades da empresa é entrar nos injetáveis complexos de última geração, sem descartar as vacinas numa fase posterior. Algumas destas novas parcerias estão definidas, mas não podem ainda ser reveladas, tal como não podem ser revelados os nomes das farmacêuticas internacionais que trabalham com a Bluepharma devido a acordos comerciais de confidencialidade.
De Coimbra a São Francisco
Paulo Barradas Rebelo adianta que um dos seus focos é atrair fornecedores da área farmacêutica para a Europa, de forma a garantir cadeias de fornecimento mais curtas e ganhar agilidade na distribuição. Acredita que este é um projeto que interessa à União Europeia, considerando “os problemas que houve com escassez de medicamentos no ano passado, pela grande dependência da China e da Índia”.
"No Bluepharma Park vamos ser hospedeiros e parceiros. Temos um campo enorme de trabalho pela frente", sublinha o gestor, convicto das virtudes das parcerias para avançar mais rapidamente. Aliás, nota, "o que acaba de acontecer com a Pfizer e a vacina da covid-19 é um bom exemplo de que para andar mais depressa é fundamental trabalhar em rede, com fornecedores, clientes, outras empresas". "Dizem que o segredo é a alma do negócio. Nós acreditamos que o verdadeiro segredo é a partilha. Por isso apostamos em parcerias", acrescenta.
E esse é o ADN desta empresa que juntou "um grupo de cinco colegas e amigos de Coimbra" quando a Bayer vendeu a sua fábrica na cidade, em 2001. Nasceu com as 58 pessoas que trabalhavam para a multinacional. Hoje, após investirem mais de €50 milhões, têm 700 trabalhadores, 130 dos quais são cientistas, distribuídos por 20 empresas, com braços em Espanha, Moçambique, Angola e Estados Unidos, onde criaram uma parceria com franceses, alemães e gregos.
Em 2020, as vendas cresceram 20%, para os €75 milhões, com a área industrial a contribuir com €58 milhões e as exportações para mais de 40 países a responderem por 88% deste valor. A capacidade de produção está nos 316 milhões de comprimidos e 126 milhões de cápsulas por ano. Para 2021, as previsões falam de um crescimento de 20%, mantendo o ritmo anual de criação de 100 postos de trabalho.
Com um portefólio diferenciado de mais de 100 moléculas, e uma estratégia assente na inovação que passa, mais uma vez, por parcerias com universidades, de Coimbra a São Francisco, a Bluepharma acaba, também, de se tornar a primeira farmacêutica do mundo a lançar embalagens de medicamentos com o código ColorADD, um sistema de identificação para daltónicos que vai ser adotado em todo o seu portfólio. "É um projeto pioneiro e inclusivo para minorar um problema que afeta 350 milhões de pessoas e contribuir para a toma dos medicamentos com mais segurança", diz.
Se a primeira década foi a do arranque e a segunda trouxe a consolidação do projeto, a terceira será “de crescimento” assente na diferenciação do portfólio, digitalização/indústria 4.0 e exportação, assume o presidente da empresa. "A decisão de investir já vem de trás e não pensamos abrandar o ritmo dos projetos que definimos por causa da pandemia", afirma, convicto de que depois de ter atraído as melhores empresas do mundo nos anos 60 e 70, “a indústria farmacêutica tem muito para dar a Portugal nos próximos anos”.
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